Entrementes
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#59 | Lidando com o luto do suicídio
A dor do luto do suicídio só pode ser conhecida por quem perdeu alguém dessa forma. Inconformismo, culpa, raiva em intensidade insuportável são comuns, e a mente é dominada por uma série de perguntas. Até quando vai ser assim? Eu deixei de fazer algo? Por que isso aconteceu?
Conversamos com Terezinha Maximo, que perdeu a filha mais nova e fundou a ONG Nomoblidis de acolhimento a enlutados por suicídio. Sua experiência pode ser de grande ajuda para quem está lidando com esse processo.
Produção: Baioque Conteúdo
Roteiro e apresentação: Luiz Fujita Jr
Coordenação geral: Paulo Borgia
Edição: Amanda Hatzyrah
Trilha sonora: Paulo Garfunkel
Instagram: @entrementespodcast
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Olá, sejam bem-vindos ao Entrementes, nosso podcast de saúde mental contra o estigma. Eu sou o Luiz Fujita e pela primeira vez desde o nosso episódio inaugural, em que a gente falou sobre suicídio, a gente volta a esse tema, né? Esse é o nosso episódio de Setembro Amarelo. Como muita gente sabe, as campanhas nesse mês são fortemente voltadas para a prevenção. E apesar disso ser de uma importância inegável, né? Pra sobreviventes por suicídio, acaba trazendo também uma dor difícil de lidar, né? Que é assim, ah, se é tão prevenível assim, então eu acho que eu falhei. Uma pessoa que perdeu alguém por suicídio, quando vem com esses slogans, essas frases de que é prevenível e tal, você acabou, então, pô, se é tão prevenível assim, eu fracassei em algum ponto, né? Por isso a gente decidiu focar esse episódio aqui na pós-venção do suicídio. Pós-venção é um termo que talvez muita gente esteja ouvindo pela primeira vez na vida, né? E ainda mais pósvenção do suicídio. Mas esse termo se refere aos cuidados que são dedicados a quem está passando por um luto, né? Alguém que perdeu alguém por suicídio. A nossa convidada de hoje perdeu a filha mais nova dela por suicídio, e a partir desse evento, ela criou uma organização, né? De apoio a pessoas que precisam atravessar um momento como esse. A Terezinha Maximo é uma das idealizadoras do blog e do grupo de apoio Nomoblidges, que ela vai falar ao longo da conversa. de onde vem esse nome, que fala justamente sobre luto por suicídio. Muito obrigado por essa entrevista, Terezinha.
Eu que agradeço, Luiz. Pós-venção, uma palavra diferente. A primeira vez que eu ouvi também, eu fiquei pensando, o que será isso? O que significa isso?
Vamos conversar um pouquinho mais sobre isso hoje. No Brasil, a gente teve um aumento de 43% no número de casos entre 2010 e 2019. Particularmente entre os 15 e 19 anos, o aumento foi de 81% entre 2010 e 2019. Esses são os dados do boletim epidemiológico número 33 do Ministério da Saúde, que é recente, de setembro de 2021. No seu próprio site, o nomoblidis.com.br, a gente vê o número de 32 suicídios por dia no Brasil, né? Ou seja, a sua história é a de muitas pessoas e novas pessoas passam a fazer parte dessa história todo dia. Você se importa de contar um pouquinho como foi o seu caso? Para quem não conhece você ainda saber um pouquinho desse contexto?
Eu falo sempre que me perguntam e eu tenho a oportunidade de falar, eu conto. A minha filha, ela tinha 19 anos. Ela era uma estudante universitária. E havia sido diagnosticada com depressão, ansiedade e fobia social. E nesse período que ela havia sido diagnosticada, ela começou a falar que viver do jeito que ela vivia era uma coisa que não valia a pena. Uma coisa que não era vida. Ela reclamava muito, se queixava muito. A medicação estava demorando a fazer efeito. A gente só descobriu que é normal, é comum esse tipo de medicação demorar mesmo a fazer efeito. E ela se cobrava muito por uma melhora. E falava que viver daquele jeito não era a vida. Que era melhor acabar com tudo e tudo mais. Eu e meu marido, nós achávamos que era um certo exagero. Coisa de adolescente e tal. E dramático, porque a Marina sempre foi muito dramática. Então, nós cuidávamos desse ponto. Dessa questão, falando sempre pra buscar uma forma de olhar a vida de um outro jeito Que era uma fase, que ia passar, enfim A gente sempre tem solução pros problemas dos outros, né? Sim E foi com isso, em tratamento com psiquiatra, com psicólogos Mesmo assim, aconteceu A Marina, ela chegou a ser internada Só que ela não se adaptou lá no hospital, ela pediu pra sair Eu e meu marido, nós fomos buscá-la Assinei lá um termo de compromisso pra cuidar dela em casa, uma internação domiciliar Fui orientada em alguns pontos Tomamos as providências de não deixar coisas que pudessem machucá-la Mas um dia, e não deixá-la sozinha de jeito nenhum Mas um dia ela pediu... Aconteceu um fato que nós tivemos que deixá-la um tempo sozinha Ela estava com a supervisão de um amigo, um tempo, mas ele precisou sair. Nós nos atrasamos nesse compromisso. E foi nesse curto período de tempo que ela executou o que ela havia planejado. Então, foi uma coisa assim, muito... foi um baque. Por mais que as pessoas falem, não, mas ela falava, mas ela já estava verbalizando, ninguém espera que aconteça. E outro fato, a Marina não morreu de imediato. Nós a socorremos, ela foi internada, ficou hospitalizada por 20 dias. Desses 20 dias, 18 na UTI. Nós passamos por uns maus bocados dentro do hospital, inclusive ela. Ela foi negligenciada. As pessoas, infelizmente, têm esse preconceito ainda com quem tenta suicídio.
A gente vai falar também sobre.
Infelizmente, ela não aguentou e faleceu. Então, depois disso, eu e meu marido, a família toda, nós falamos, mas como, né? Fica sem acreditar no que aconteceu. É um choque, um baque. E até você colocar as coisas num... tentar organizar os seus pensamentos, né? Demora muito, muito, muito. E é aquela coisa, né? A gente falar de que é fácil resolver os problemas dos outros e dos nossos, Então eu fiquei com muitas perguntas sem respostas Por que uma pessoa como a Marina tomou uma atitude dessa? E foi a partir daí que eu fui atrás dessas respostas não só dessas, mas como de outras, várias.
A gente vai falar sobre essa sua busca, né, Teresinha? Acho que você aprendeu muita coisa nesse período e acho que justamente a nossa intenção é ajudar quem possa estar passando por isso a ter um caminho um pouco mais fácil, né? Não ter que receber informação tendo que buscar e sem saber se aquela informação é correta, se sentir muito desamparada, né? A gente vai falar um pouquinho mais sobre isso. Terezinha, além da pós-venção, que é um termo que a gente já falou aqui, né, muito pouco conhecido, queria que você também explicasse um outro termo usado quando a gente fala em luto por suicídio, que é chamar as pessoas que ficaram, né, que perderam alguém, de sobreviventes. Acho que as pessoas, em geral, usam esse termo pra quem, pra própria pessoa, né, que passa por alguma algum episódio de quase morte, algum acidente, aí é um sobrevivente. No caso não é a própria pessoa, né? É quem ficou aqui e perdeu alguém. Mas por que que no caso do luto por suicídio a gente usa esse termo sobrevivente?
Então, o termo ele vem do inglês, né? Survivor. E praticamente tudo que é ligado ao suicídio a gente copia lá do exterior, né? Então o Survivor, que significa sobrevivente, E é considerado todas as pessoas que ficam vivas após uma tragédia. O suicídio é considerado uma tragédia. E os sobreviventes são todas as pessoas que se sentem, que foram afetadas pelo suicídio. Principalmente a família, os amigos, os profissionais. Então quem passa por um suicídio, ele fica... Luta pra sobreviver, né? Porque a gente fala que não consegue ter uma vida normal. Até a questão de básico, vamos falar assim, sabe? O básico. Você fica traumatizado, então você não consegue comer, você não consegue dormir. Você luta pra sobreviver. Com o tempo você vai recuperando forças, né? E vai conseguindo tocar a vida. Mas não é uma coisa simples, então é... É uma morte traumática, né? Então, por isso é usado esse termo. Então, como o survival é quem sobrevive, usam esse termo tanto pra quem tentou, como pra quem perdeu alguém.
Terezinha, eu imagino que no momento, na época mais próxima do episódio, realmente fique aquele turbilhão, né? Você não consiga elaborar... Nada e isso permanece durante muito tempo. Atualmente você já passou um pouco mais de tempo e não só isso virou uma militante da informação sobre esse tema e olhando para trás e para as histórias que você já viu desde então. Você consegue identificar, assim, que sentimento que você acha que é o mais teimoso em conseguir superar, sabe? Que talvez até hoje você precise lidar mesmo, alguém tão esclarecido sobre esse tema e que você fala, olha, esse sentimento vem, na hora talvez você não perceba, mas esse é um que vai ficar e vai ter que ser, fazer parte dessa luta diária da sobrevivência aí, né? Tem algum que você consiga, ou alguns, né?
Então, alguns, que é uma mistura, no começo é uma mistura tão grande que a gente não sabe nem separar, não sabe nem falar o que que é qual, né? A culpa, que eu falo que ela é como se fosse uma fumaça, ela vai entrando em lugares que você, sabe, deu uma brechinha, ela tá entrando, então você larga uma e pega outra, então assim, foi trabalhado muito, muito, muito em mim, com a terapia, a questão da culpa, então assim, ao mesmo tempo que eu falo, poxa, eu fiz tudo o possível com as informações que eu tinha na época, mesmo assim aconteceu, ainda fica aquela culpa, mas será que se eu tivesse, mas será que se não sei o que, e se eu tivesse feito isso? Então você acaba largando uma e pegando outra, então tem que tomar muito cuidado com isso. É uma vigilância constante. Eu fiquei com muita raiva de toda a situação, Eu fiquei com muita raiva do acontecido, porque a Marina passou por vários psiquiatras, por vários psicólogos, e não teve nenhum que realmente soubesse alguma coisa. Então eu fiquei com muita raiva do sistema de saúde, dos profissionais, depois quando ela foi internada, do descaso que tem com as pessoas. Ela estava doente. Por que essa distinção, essa separação? Se você faz um juramento de cuidar das pessoas, indiferente quem a pessoa é, o que ela fez, ali é um ser humano. Então essas são essas duas coisas que eu... que eu trabalho até hoje com a questão da culpa e da raiva.
Terezinha, eu até tinha deixado essa pergunta um pouco mais para o final da nossa conversa, mas como a gente já mencionou duas vezes, aí eu queria então já puxar para agora. Isso eu acho que é pouco conhecido, essa coisa dos profissionais de saúde, por vezes, não receberem como deveriam, como profissionais de saúde, pessoas que tentaram suicídio. Conta sua experiência um pouco, eu acho que sempre, qualquer experiência de alguém que pode ter passado por isso, ouvir que isso acontece mesmo e que há pessoas como você sempre ajuda. Você pode contar um pouquinho e talvez acho que isso seja um tema Inédito pra muita gente assim, né? Como assim? Por que que eu vou, né? Alguém que tá precisando de cuidados urgentes, né? Pra um estado grave, como essa pessoa pode ter um tratamento ruim de profissional de saúde, né? O que que acontece que leva a isso?
Preconceito, desinformação, eu acredito nisso, né? Eu não creio que seja maldade, né? Eu não consigo... colocar isso na minha cabeça. É desinformação e um preconceito, porque a nossa sociedade, ela fala do suicídio com... Aliás, quando fala, porque pouco se fala, mas quando fala, fala de uma forma, assim, meio que pejorativa, cheia de tabu. Então, imagina você entrar com uma pessoa num hospital, num pronto-socorro, que foi o caso da Marina, num pronto-socorro, e tendo lá várias pessoas para serem atendidas, E você falar, não, vou socorrer essa primeiro, porque tentou se matar, enquanto uma está lá com pressão alta, tendo um infarto, alguma coisa assim, você tem que escolher entre as duas. Então, o que a pessoa vai fazer? Não, acho que eu vou socorrer quem quer viver, não quem quis morrer. Então, faz parte da mentalidade de achar que eu quero cuidar de quem está querendo viver, não quem quer morrer. Então, só que assim, o transtorno mental, até dentro da saúde dentro, no meio dos profissionais, é visto como algo que não existe, sabe? É força de vontade, é falta de querer melhorar. É como qualquer outra coisa. Então, assim, ligado ao transtorno mental. É uma falta de fé. Eu escutei isso no hospital. Ah, ela tem religião.
No hospital.
No hospital, na UTI, os profissionais vão me perguntar, mas por que ela fez isso? Ah, mas porque ela tem religião, ela não sei o que, sabe? Então assim, brigou com o namorado, essas coisas assim, essas perguntas que você vai, sabe? Da hora você responde porque você tá ali, você não quer, né? Mas é uma questão assim, eu também na época não sabia, mas o que eu queria é que minha filha tivesse o tratamento possível. Então aconteceu, Luiz, um caso assim surreal pra mim. Eu fico até emocionada quando eu lembro. Mas o hospital que a minha filha estava não era um hospital público. Era um hospital de um plano de saúde. E um plano de saúde grande, relativamente grande. Na época que ela estava lá, no sábado de carnaval de 2017, evacuaram a UTI pra fazer uma manutenção, que era pra pintar as paredes. Pra você ter uma ideia, tiraram todos os outros pacientes, deixaram a Marina. Eles colocaram um plástico preto em volta dela, isolando ela, enquanto as paredes eram descascadas. Quando eu cheguei, eu não acreditei naquilo. Falei, mas o que tá acontecendo aqui? E eu fiquei desesperada. Não, eu não tô vendo isso. Não, é porque uma pessoa que ia dar lugar para ela na outra teve que continuar e a gente está aguardando que valha um espaço lá para colocar ela. Eu falei, mas logo ela? Sabe assim?
Só ela?
Só ela. Então assim, a única que tinha tentado suicídio. Então assim, então se você vê. Então quando eu reclamei, eles não gostaram da minha reclamação. O enfermeiro foi rude comigo. Eu tive que falar, poxa, se coloca no meu lugar. Você não tem filho? Tenho, 19 anos.
Mas com ele não aconteceria?
Isso mesmo, isso não ia acontecer de forma alguma. Então isso me marcou muito, muito negativamente. Traumaticamente, inclusive. Então assim, pra você ter uma ideia, eu tenho trauma de UTI, eu tenho trauma de tudo que é ligado ao hospital. Pra mim é tudo muito difícil. Enfim. Depois que aconteceu, eu fiquei sabendo, né, nas minhas estudos, nas minhas coisas, que uma das áreas, se for separar profissionalmente os suicídios, a área de saúde é uma área que ocorre muitos suicídios. Então teve um enfermeiro lá desse hospital, que ele foi conversar com meu marido e ele falou, olha, já teve um caso aqui, Já teve dois casos aqui de colegas nossos, um inclusive aqui dentro e o outro tentou se jogar. Então assim, a gente sabe da importância, né? Ele no caso sabia, mas nem todo mundo vê dessa forma porque acredita muito na religião e essas coisas assim. E isso acaba atrapalhando, né? E eu acho que tinha que saber separar. o profissional do religioso, dos preconceitos, das teorias que a pessoa tem. Infelizmente isso não aconteceu no caso da Marina.
E deve acontecer bastante ainda hoje, a gente imagina.
Parece o que eu recebo de comentário quando eu falo nesse assunto, você não faz ideia. E como é triste escutar, e como é muito triste, porque a pessoa ela tá ali, fragilizada, porque você tá doente, você tá num lugar onde você deveria ser cuidado. E no entanto, acontece uma coisa dessas, então é muito triste. e revoltante, no meu caso também.
Terezinha, eu cheguei até você porque uma grande amiga minha, que é a Maya, uma futura psicóloga, trabalha no CVV como voluntária e ela participou de um evento do CVV em que você falou. E aí ela me falou, olha, acho que você podia falar com essa pessoa que foi muito interessante. E o que chamou a atenção dela inicialmente foi esse alerta que eu falei no começo do Setembro Amarelo. Gente, longe de mim, né? De criticar o Setembro Amarelo, importantíssimo a gente falar de prevenção do suicídio, né? Todo mundo aqui sabe. Mas tem esse lado que eu não tinha pensado nisso. Mesmo trabalhando nesse podcast e muito interessado por saúde mental, né? Falar, pô, realmente, né? A campanha pela prevenção, ficar martelando nisso pra um sobrevivente é muito duro, né? Muito duro ouvir. Queria que você falasse um pouco como esse episódio vai ao ar no Setembro Amarelo. Falar-se um pouquinho sobre as reportagens, o que você costuma ver nessa época que traz uma interpretação ou uma forma de expressar um pouco errada sobre esse tema e que dificulta principalmente os sobreviventes, né?
Então, é muito importante se falar sobre a prevenção, explicar o que é um suicídio, pra gente ir quebrando essas barreiras que existem, esses tabus, esses estigmas que existem. Porém, o que acontece é que alguns profissionais não são especializados e eu falo e muitas outras pessoas concordam comigo que usam o copiar e colar. E aqui a gente tem aquela coisa de usar termos para chamar atenção. Então, eslogans. Então, um eslogan que ficou marcado e que eu falo que é como enfiar uma faca e girar no nosso peito são sobre os 90%. O que é esse eslogan? No Setembro Amarelo costuma aparecer assim, 90% dos suicídios poderiam ser evitados. Só isso. Não explica por quê. Então, as pessoas que escutam, porque ela vai pegar, porque chama a atenção, 90%, poxa, mas só 10% das pessoas se matam. Por que não foi prevenido? Porque se dá pra evitar, por que não evitou? Eu escutei várias vezes, várias pessoas vieram me perguntar, mas olha, você estava cuidando, você estava tratando, por que ela se matou? Então fica aquela impressão assim que, poxa, que fracassada que eu sou. Não fiz nada direito, né? Então fica aquilo martelando, martelando, e as pessoas olham e falam, poxa, mas... E vem aquela coisa de os 90%, quando se explica, quando a pessoa vai atrás pra saber o que realmente é. Esse é um estudo antigo que foi feito lá na Europa, não lembro exatamente o país, e foi uma publicação da OMS que fala que 90% dos casos de suicídio estudados naquela época foi constatado que a pessoa que se matou tinha, a família poderia supor, estava supondo que ela teria algum transtorno mental. E que transtorno mental tem tratamento. Portanto, se tem tratamento, dá pra prevenir. Óbvio, né? Porém, Brasil, como é que você vai evitar 90% dos suicídios? E outra, contrassenso, mas se é multifatorial, por que que fica lá martelando que é só tomar um remedinho, passar no médico que vai ficar tudo bem?
Esse estudo dá um salto para essa conclusão. Bom, se teve suicídio, provavelmente tinha transtorno mental, transtorno mental trata, então é prevenível. Esse último salto é um absurdo.
Realmente dá para prevenir, mas da forma como é feito, do jeito que fala que é simples, que é fácil, dá a impressão que é uma fórmula mágica. Então, se fosse tão simples e tão fácil, os números não seriam tão grandes e não estariam aumentando como estão. Então a gente fala, poxa, quem tá errado? Onde tá o erro? Se dá pra prevenir, quem que tá errando? o diagnóstico tá errado, a família não tá cuidando, o que que tá acontecendo? Então a gente tem que ver onde que tá essas brechas aí, aí ninguém quer fazer, entendeu? Mas assim, esses 90% pegam a gente de forma, então, e você escutar aquilo, aquele tempo, sabe, martelando, martelando, martelando, 30 dias, e por mais que você fuja, não queira escutar, não queira participar, vai chegar uma hora que você vai escutar, vai aparecer alguém com a fitinha falando que, olha, dá pra prevenir que 90%.
É uma campanha muito bem sucedida quanto à popularidade, né? É quase um outubro rosa, né?
Outra coisa também, escute o coleguinha. Você tá preparado pra ouvir? Quem é que tá preparado pra ouvir que uma pessoa quer se matar? Ninguém, Luiz. Ninguém.
E se ouvir, o que eu faço?
E o que é que eu faço? Aonde eu vou colocar? Eu vou falar o quê? Eu vou falar pra ele, não, pensa em Deus, vai pra igreja, que a maioria fala. Não, sua vida é maravilhosa, olha, pensa, falando de tal, tá com câncer, vai visitar um hospital do câncer, vai fazer não sei o que. Então assim, escute o coleguinha. Uma pessoa escutar uma coisa dessas, pra você ter uma ideia, eu falo com muita gente, né? Então, falo com pessoas que tentaram suicídio. Teve algumas pessoas que chegaram pra mim um dia e falaram pra mim assim, é engraçado, eu tô com acompanhamento Há muitos anos com psicólogo, com psiquiatra, e eu escutei uma coisa que você falou que nunca ninguém me falou. Porque as pessoas geralmente, no luto, a gente fala que as palavras têm um significado diferente. A gente passa a escutar e a entender as palavras de uma forma diferente. Então, às vezes, quando eu falo essa palavra, tem muita gente que fica assim, poxa, não é bem isso. Eu falei assim, você precisa validar a sua dor. O que é validar? Aí ela fala, não, mas eu validei a dor do meu filho. Eu validei a dor da minha filha também. Só que da forma diferente, da forma como eu entendia validar. Não da forma que ela entendia que ela precisava. Então quando alguém fala pra mim que tá com um pensamento assim, eu escuto. Mas eu escuto de um jeito que não é ouvir e dar respostas. Valir o que ele tá sentindo. É isso que o CVB faz, né? Validar o que a pessoa tá sentindo. Então assim, eu não vou tirar a dor dela de forma alguma. Não, olha, a sua dor é legítima. Você tem razão de estar sentindo ela. Mas vamos cuidar dela. Vamos validar. Não é querer tirar do foco aquilo. Muita gente entende isso, que quando alguém chega pra você e fala que quer morrer, a pessoa vai falar que a vida é bela, pensa não sei o que, isso vai passar. É a questão da validação do que a pessoa tá sentindo. Quando fala assim, escuta o coleguinha, eu já fico preocupada, porque eu também falei no passado, abre, fala, vamos falar. Tem que tomar cuidado também com o que a pessoa vai falar e como ela vai reagir àquela fala e como que o outro vai entender a comunicação ali. Então não é complexo não é simples.
É justamente para um evento complexo desse não basta esses tópicos assim. Faça isso.
Ou conheça os sinais. Os sinais só fazem sentido após a morte. A minha filha falava que queria morrer, que pra ela a vida, sabe, viver daquele jeito era uma morte já. Então, viver medicada, viver vigiada, sentindo uma coisa que ela não sabia explicar o que era, ela não conseguia comer, não conseguia dormir. Quais eram os sinais? Hoje eu sei todos. Agora fazem sentido pra mim, porque de tanto eu ler, de tanto eu estudar. Mas ela conversou com a psicóloga dela nos momentos que ela estava fazendo, executando o plano dela. Aí eu pergunto pra você, liguei pra psicóloga pra perguntar, ela te falou alguma coisa? Não, ela só queria dormir. Ela falou pra mim que ela queria dormir. Aí eu falo, poxa, se a Marina fez tudo comigo dentro de casa, por telefone, com a outra mulher, como que aquela pessoa ia saber, ia descobrir? São os sinais. Então assim, os sinais só fazem sentido depois. Nem às vezes, nem uma pessoa treinada, muito bem treinada, ela consegue exatamente. São alguns alertas, são alguns gatilhos, mas é complicado você saber. Então isso também martela a culpa no sobrevivente.
Teresinha, falando em culpa e relembrando a raiva que você falou, acho que são dois sentimentos muito frequentes para sobreviventes. O que você percebe hoje que meio... Te ajudou, mas de uma forma assim, opa, a partir daqui é que eu comecei realmente a aprender a vivenciar o luto. Tem algumas coisas que você pode falar, olha, isso vai te ajudar bastante. Comece a pensar nisso quando você se sente preparada. Um evento marcante para você. Você fala bastante de grupos de apoio. Isso para você é uma coisa essencial nessa caminhada?
Sim, foi para mim, foi um marco. Posso dizer que eu Foi o que eu acho que eu sempre acho não tenho certeza se eu não tivesse procurado o grupo de apoio não estaria aqui do jeito que eu estou hoje. Eu acho que eu nem sabe eu teria adoecido. Eu não teria feito o que a Marina fez mas eu acho que eu não estaria aqui da forma que eu estou.
Isso acho que é um pouco as pessoas têm uma ideia assim é meio caricata né. Ou muito simples, um grupo de apoio, acho que eu vou lá, encontro outras pessoas que estão num momento meio parecido e a gente fica conversando. É meio isso, né? Você pode explicar um pouquinho por que eles ajudam tanto, te ajudaram tanto?
Primeiro que você acha que é só com você. Você tem uma coisa, né? No suicídio, ou em uma morte traumática, enfim. Eu acho que a razão, ela perde um pouco, né? Só fica mais na emoção. Por mais que eu soubesse o que ia acontecer ou que eu conheci pessoas com outros familiares durante a minha vida, que perderam alguém pelo suicídio, você fica imaginando que é só você, que aconteceu aquilo, que é só você. Que aquilo que você sente, aqueles sentimentos, aquela coisa de ficar o tempo todo pensando naquilo. Eu só conseguia desligar ao pouco tempo que eu dormia. Pra pegar no sono era uma guerra, pra dormir... Aí quando acordava de madrugada, achando que... Na hora que acordava... Pô, a Marina não tá aqui, aconteceu... E aquilo, sabe? A cabeça não desliga. O que vai acontecer comigo? Eu vou ficar louca. Eu vou perder o juízo, sabe? Eu vou sair por aí... Andando, porque eu não sei... Será que isso é comum? É normal? Você deve sentir assim, porque eu não sabia Quando eu escutei de outras pessoas no grupo de apoio Eu escutei outras pessoas contando as histórias delas Eu percebi que, poxa, eu também sinto isso Então eu não tô sozinha Então assim, eu não tô louca, não tô enlouquecendo Ah, e fechei a porta do quarto pra colocar na minha cabeça Que ela tava ali, que ela viajou, que era alguma coisa assim Pra você não encarar a realidade Então assim, não só sou eu, então é isso mesmo Pra mim foi, de certa forma, malívio, né? Escutar outras pessoas, outras histórias. Poxa, infelizmente isso é mais comum do que se imagina. E os sentimentos faziam parte. Eu tinha raiva. Então, quando a pessoa chegava pra mim e ficava falando, ah, Deus quis assim, eu ficava com raiva da pessoa. Poxa, a pessoa tá tentando te ajudar e mesmo assim você tá sendo... Eu agradecia, mas eu ficava com raiva daquela pessoa. Ah, e as pessoas se afastavam. Então, eu vi as pessoas sumirem até do meu WhatsApp. As pessoas mandavam mensagem, não mandavam mais. Ouvi de outras pessoas que acontece isso mesmo. Então eu comecei a trabalhar isso dentro de mim, de que, poxa, é assim mesmo. Então vamos não ficar também... Ah, já que tá ruim desse jeito, vou por outra forma, de outro jeito. Então o que ajuda, o que não ajuda? Porque a gente fica muito apegada ao que é ruim. que faz mal, que eu tô falando da raiva, então você se apega muito na raiva, se apega na culpa e esquece do restante. Então vamos trabalhar o que faz bem. Outra coisa que me fez bem, me faz bem, é escrever. E por incrível que pareça, eu comecei a escrever por quê? Porque eu, com a raiva que eu estava de tudo que tinha acontecido, queria processar o hospital. E aí eu falei com os advogados e eles falaram, escreve tudo o que você lembrar. E quando eu escrevia, aquilo me aliviava. Aí eu comecei a escrever, escrever, escrever. E fui vendo que aquilo fluía. Eu não tinha com quem falar, porque quando eu ouvia as pessoas falarem, tentavam mudar de assunto, tentavam podar a minha dor, não validavam a minha dor. Então eu comecei a escrever, porque pra mim o papel, o papel não, na tela de computador me ajudava. Eu colocava tudo o que eu sentia, depois eu lia em voz alta, chorava, chorava, chorava. Aliviou. Pronto, vou fazer outra coisa. E assim foi, sabe? Então durante esses cinco anos é o que foi. Os grupos de apoio, conversando com outras pessoas. E é assim, uma roda de conversa realmente. Não vai ter solução, tá? Às vezes as pessoas procuram e falam, mas o que é falar? Gente, solução pro nosso problema não tem. É o que a gente faz ali, é buscar formas de continuar a viver e acomodar a dor dentro da gente. Então assim, não tem fórmula mágica, não tem receita, O que faz bem pra mim, não vai fazer bem pro outro. Então, tudo isso, a gente não fica dando conselho, faz isso, faz aquilo. Não, não tem isso. São trocas de experiência, são trocas de vivência. É isso que nós fazemos. E isso me ajudou.
Tem um conceito, que você até faz alguns posts no seu blog sobre isso, que é aceitação. Eu queria que você falasse um pouco sobre isso, porque esse conceito dentro do luto por suicídio é bastante complexo, né? Porque ele é uma coisa necessária, Mas ele não significa também que você nunca mais vai sentir sentimentos ruins de novo, porque aceitou, sabe? Como se fosse, ah, agora que eu aceitei, acabou. Acabou o luto por suicídio, né? Que não vai haver gatilhos. Então eu queria que você desse essa esclarecida, sabe? Porque ele é importante, mas se ele não acaba com esses sentimentos, pra que ele serve? Tenta tirar essa nuvem aí de cima desse termo.
Como eu falei, as palavras ficam meio que bagunçadas na nossa cabeça, né? Aceitar a morte não tem o que fazer, né? A Marina não está mais aqui. Então, o que me resta? Eu vou viver como se ela estivesse aqui? Para mim, Terezinha, não faz sentido. Então, eu tenho que aceitar que ela não está mais aqui e que a minha vida, a partir de agora, é sem ela. Eu falo assim, ela fisicamente, não falando espiritualmente nada disso. Fisicamente ela não tá, mas ela tá em tudo que eu faço, ela tá nas minhas memórias, ela tá nas minhas lembranças, então eu aceito isso dessa forma. Porque se eu não, eu Terezinha, se eu não fizesse isso, eu não estaria aqui conversando com você, com certeza. Eu estaria então de outra forma. Agora, aceitar o que aconteceu da forma como aconteceu é outra história. E aceitar, quando a gente fala, né, que quando você aceita, você fecha um ciclo, você fecha uma porta, você fecha, então resolvi aquilo, superei, que é outra palavra também que a gente tem os pontos aí pra falar, não existe. Entendeu? Não existe, porque vai e vem. Não tem como você simplesmente solucionar esse problema. Então, vai ter época, vai ter dia, vai ter um cheiro, uma comida, uma lembrança. Passo uma menina que parece com a Marina na rua e eu fico, poxa, Marina. Vejo alguma coisa que ela gostava, um livro, alguma coisa, uma música. Tudo vem. Não é uma coisa assim. Só que, de uns tempos pra cá, eu aprendi a lidar com isso. Eu sofro, sofro. Mas é menos do que antes. Então se eu ficava um dia arrasada, hoje eu fico meio-dia, entendeu? Então assim, eu vou ficando. Então não é, as pessoas falam assim, a dor, não sei o que da dor, o sofrimento. Tem até uma, quando falavam pra mim assim, a dor faz parte, o sofrimento opcional, eu não entendia, eu ficava com raiva também. Pô, a pessoa nunca perdeu ninguém. Mas eu fui amadurecendo essa ideia, fui entendendo, fui aceitando que isso faz parte, né? E que a questão da dor, eu vou sentir dor sempre, mas o sofrimento eu vou conseguindo apaziguar ele, ficar, poxa, né? Já não é mais um dia todo, é meio dia, é um quarto do dia, é alguns momentos. Então, e a gente fala que vivendo o dia de cada vez, né? No começo, não são dias, são horas, um dia, uma hora de cada vez. Eu tô nessa fase do dia de cada vez. Então assim, eu não fico fazendo planejamento a longo prazo, mas hoje eu tô bem, amanhã eu não sei. Hoje eu consigo falar, hoje eu faço não sei o que, mas tem dia que eu não consigo. As pessoas falam assim pra mim, mas você consegue levantar da cama todo dia? Ela fala, desde a época, desde quando a Marina morreu, todos os dias de manhã eu levanto da cama. Tem dia que eu volto, mas eu levanto, entendeu? Então assim, eu não sei amanhã como vai ser, mas eu sei que hoje eu consegui, hoje eu tô fazendo alguma coisa. Então a questão da aceitação é isso, é aceitar que a morte aconteceu. E viver com essa ausência do jeito que eu consigo, do jeito que eu dou conta.
Acho que é importantíssimo você falar isso, a gente fez aqui um episódio sobre luto do divórcio, né? E eu gosto muito da profissional que a gente entrevistou, é até uma amiga, né? E ela fala isso, é uma pergunta muito imediata que vem quando alguém perde alguém é quanto tempo demora para acabar. Esse sentimento e ela fala essa pergunta nem faz sentido. A resposta não é dias, anos, não vai acabar, vai evoluindo como você falou. Para terminar a nossa conversa, eu queria agora sair um pouco da sua história, que eu acho que ela contribui muito para a informação que a gente quer passar, e falar sobre as outras pessoas, as pessoas que estão em torno do sobrevivente. A gente mencionou um pouquinho aqui que as campanhas às vezes são muito superficiais e aí acho que acontece um pouco isso, essa coisa, a fale, converse com a pessoa que perdeu e a gente não sabe muito bem como. Também é um tanto difícil para quem está em volta e você fala que o luto do suicídio é muito solitário. As pessoas ficam particularmente desconfortáveis, inseguras, têm medo de ser invasivo e aí acaba sumindo. Na verdade, para o sobrevivente as pessoas acabam se afastando. Você consegue dar um esclarecimento assim como agir quem está no entorno de uma forma que ajude o sobrevivente de alguma forma?
Eu e o Joseval, nós fizemos até uns dez pontinhos, né? De que para as pessoas querem ajudar alguém por luto por suicídio, não sumam. As pessoas ficam com medo de chegar, de falar alguma coisa. E no começo eu pensei que eu tivesse uma... Foi antes da pandemia, mas eu achava assim, poxa, eu tô com uma doença contagiosa, porque todo mundo sumiu. Mas as pessoas também não sabem lidar com a nossa doença. Tem até umas pessoas que falam assim, a dor compartilhada é fácil de viver, de você sentir do outro. Ninguém quer sentir dor. Você sente qualquer dorzinho, você já corre pra fazer alguma coisa pra passar. Ah, poxa, eu vou falar com aquela pessoa, ela vai começar a chorar, aí não sei o quê, o que eu vou falar pra ela, aí eu vou chorar também. Então assim, não é fácil, sabe, você ver uma pessoa sofrendo. Você estando, se afastando, o que é que aquela dor vai passar? Ah, eu não vou ver, então... Mas, assim, estar do lado. Você não precisa falar nada, só estar do lado. Ajudar em alguns afazeres, porque, como eu falei, a gente não consegue nem comer. Eu até brinco que eu passei... Eu passei... Eu estou risada, mas na época é muito... Eu passei muito tempo comendo, buscando comida, comendo marmitex. Eu não aguento mais, eu não suporto... Até hoje eu não consigo mais comer a comida desse restaurante. Por quê? Eu não conseguia cozinhar, não conseguia fazer nada Então assim, qualquer coisa do dia-a-dia que você puder ajudar E não ficar com frases prontas, né? Não precisa falar nada. Então assim, essas frases prontas. Ai, Deus quis assim, foi melhor. Escutei, claro. Foi melhor pra você o que aconteceu, porque ela ia te dar muito trabalho. Eu falei, olha, eu preferia mil vezes que ela estivesse me dando trabalho aqui hoje. Coisas que as pessoas falam que pra elas podem fazer sentido, mas pra mim Então assim, não falar nada que você não sabe, que você não medir, ficar comparando. E a questão da religião, das crenças. As religiões, lógico, condenam o suicídio, mas se eu não faço parte da sua crença, por que você tem que ficar falando pra mim que é por isso, por isso, por isso? Você tá fragilizado, tá quebrado. A encarne vive, e alguém chega pra você e fala coisas absurdas em quem comete suicídio, aí você fica, junta tudo, faz aquela né, tudo, e você não consegue separar uma coisa da outra, e fica pior do que estava. Então assim, o básico é isso, não deixar sozinho, sabe? Deixa chorar, porque a gente precisa chorar, não tem como não chorar. O importante é isso, é cuidar, não abandonar, não deixar sozinho. Por que a pós-venção, né? A palavra pós-venção é todo o trabalho que se faz após a morte de alguém por suicídio. Então, a tendência a ter outros casos dentro de inlutados é muito grande. Então, por causa da culpa, do desamparo, do desespero e tudo mais. Então, esse cuidado que a gente tem de cuidar um do outro, a gente faz esse cuidado de parar, de acolher o inlutado na pós-venção pra isso, pra ser.
Pra arrematar tudo isso, Terezinha, né, falando em tudo isso, né, pós-venção, você fez o post, né, pra ajudar as pessoas do entorno. Queria que você só terminasse falando um pouco sobre o seu blog, o que que tem lá. Ele me ajudou muito pra fazer a pauta. E eu imagino assim que ele ajude demais quem pode estar passando por um momento como esse. Mas fala um pouquinho, dá uma geral sobre ele. Explica o nome, né? Apesar que tem lá, se a pessoa for visitar o blog ela vai ver. Ou se você quiser deixar no suspense, né? Aí a pessoa vai lá descobrir o que é o NoMoblidis. Mas fala um pouquinho o que tem lá, o que você oferece lá.
São os meus escritos sobre o luto, as coisas que eu sentia, o que eu percebia. juntando a minha vida, o que eu aprendi e tudo na vida e dentro desse processo. Faz sentido para algumas pessoas, para as outras nem tanto, porque nós somos diferentes, enfim. O blog tem um ebook também, que foi um trabalho em conjunto com os outros enlutados do grupo, um trabalho que nós fizemos no grupo, que fala das palavras. Então, quando as pessoas nos falam algumas palavras e que sentido ela passou a ter dentro do nosso multo, Então tem esse mini dicionário, são 15 palavras. Tem lá no blog também os dias e horários e como se faz para se inscrever, participar do grupo de apoio. E o nome, ele quer dizer não me esqueça. A Marina, ela gostava muito de aprender coisas novas, ela estava aprendendo francês e se deu não sei como. é aprender e resolveu aprender catalão por conta própria. E aí ela escreveu no WhatsApp dela no perfil: “Si us plau, no m’oblidis”. Eu nem sei se a pronúncia é essa porque eu não falo. Então eu vi aquela frase lá mas para mim sabe uma coisa assim que sei lá coisa de que se faz qualquer frase. E um dia. Em setembro de 2017, eu procurando um contato, eu digitei "Mari", que era Marilene. Aí apareceu a Marina e o "si us plau, no m'oblidis". Aí me bateu a curiosidade de saber o que significava. Quando eu coloquei no tradutor: "por favor, não me esqueça". Puxa vida, foi uma coisa assim. Pra mim era um... "Como, Marina?" eu fiquei, sabe? "Marina, como que você vai falar um negócio desse?" "Como que eu vou te esquecer?" "Não tem como te esquecer." Isso aí não é esquecível. Fiquei com aquilo na cabeça e tal. No dia seguinte eu fui participar de um simpósio. Participei de um concurso literário, porque eu já escrevi, então eu participei de um concurso literário. Meu texto ficou em terceiro lugar entre Sobreviventes e Enlutados. E aí eu tomei coragem de... de publicar o blog, porque até então só eu e Joseval que sabíamos dos meus inscritos. E aí eu escutei, nesse simpósio eu escutei a história de uma pessoa também falando, contando a história da filha e o que eles fizeram após montar um instituto lindo lá em Fortaleza. E eu falei, eu não tenho como ter um instituto, mas um blog ou alguma coisa assim, um site, alguma coisa assim eu posso fazer. Aí perguntei para o Joseval, você me ajuda? Ele falou, eu ajudo, claro. Aí na hora eu escrevi no Nomoblidis. Então é um nome difícil de falar, de soletrar, eu nem sei se eu falo certo, mas é o que, o que eu entendo que faz sentido Então "não me esqueça", é uma coisa que é impossível esquecer Então "não me esqueça", realmente, nunca vou esquecer.
Terezinha, obrigado mais uma vez pela conversa, agradeço demais. Você fala bastante sobre esse tema e arrumou um tempinho para falar novamente muita coisa que eu imagino que você repita várias vezes. Obrigado por repeti-las aqui pra gente. Espero que a gente possa até falar futuramente em outros episódios mais detalhadamente sobre alguns temas que eu percebo que são mais complexos do que a gente falou aqui. Mas esse primeiro foi um geral. Espero que a gente tenha coberto a maioria do que você acha importante falar nesse momento e seja um pouco um respiro dentro desse Setembro Amarelo que a gente quer colocar esse alertinha. Falando de novo, meu Deus, não estou falando mal do Setembro Amarelo, mas acho que é importante a gente começar a olhar um pouco mais por esse lado. Obrigado por ter trazido essa leitura, Terezinha.
Eu que agradeço, Luiz.
Pessoal, muito obrigado por terem ouvido mais esse episódio. Eu reforço a indicação para o blog da Terezinha, que é o nomoblidis.com.br. Ela escreve muito bem, de uma forma muito transparente. E aí só o blog dela, eu acho que já ajudaria muita gente que pode estar passando por um momento como esse. Mas além disso, ela disponibiliza e-books que ajudaram ela. Ela tem o grupo de apoio, né? Que como ela falou, você pode se inscrever para participar. Indico muito mesmo. E aqui fazer os agradecimentos finais, né? A Nayara Ramos foi quem indicou a irmã dela, a Priscila, que foi nossa entrevistada sobre nutrição comportamental. Então obrigado, Nayara, por ouvir a gente e por indicar alguém. Rapidamente a gente já conseguiu colocar aqui no processo das gravações. Obrigado. E à Luciana Lima, que ela indicou o nosso podcast numa série que ela fez no Instagram dela, que é o lucianalima.coach, em que ela deu algumas dicas de conteúdos gratuitos que auxiliam no autoconhecimento. E aí ela colocou lá o nosso podcast. Muito obrigado, Luciana. E reforço aqui, mais uma vez, para que não seja entendido de forma errada, de forma alguma, né? Não é uma crítica que a gente tá fazendo aqui ao Setembro Amarelo de forma geral, né? A ideia da campanha de prevenção de suicídio obviamente é algo importante. Mas é uma campanha tão popular que acontece isso, né? Um monte de gente faz coisas sob esse selo do Setembro Amarelo. E nem sempre são coisas feitas com o cuidado que esse tema precisa. Então a gente gostou de colocar esse alertinha aí, né? Nem sempre a forma de comunicar pra prevenção leva em conta essa sensibilidade com os sobreviventes do luto, né? Espero que a gente tenha contribuído e que tenha ficado esclarecido e compreensível o que a gente quis falar aqui. Obrigado, gente! Até o próximo! O Entrementes é uma produção da Baioque Conteúdo, tem roteiro e apresentação minhas, Luiz Fujita, edição da Silmara Elis, coordenação geral do Paulo Borgia e trilha sonora do Paulo Garfunkel, o nosso querido Magrão. Eu peço para vocês seguirem a gente no seu tocador de podcast favorito, é muito importante para a gente aumentar nossa rede de apoio e também para seguir a gente no Instagram, @entrementespodcast para saber quando sai episódio novo, receber informações extras sobre saúde mental e também para falar com a gente. Um grande abraço.